ÉTICA E COMPROMISSO COM DEUS

Pr. Jorge Linhares

Uma dúvida que frequentemente nos ocorre é o conflito entre a ética profissional e o compromisso com a vida e com Deus. 

Jônatas, filho do rei Saul e provável substituto do reinado de seu pai, fica sabendo que Saul arquitetava contra a vida de Davi, que era seu amigo. Então, ele dá uma palavra preventiva a Davi e o orienta a fugir porque o rei Saul queria matá-lo.

Considerando uma situação como essa, que leva Davi a fugir, preocupar-se e ir embora, para, assim, evitar a sua morte e também a de seus familiares, entendemos que Jônatas agiu corretamente. Mais tarde, Davi se tornou rei e Saul perdeu seu trono.

Por advertência divina, os magos vindos do Oriente, cientes das más intenções do rei Herodes, avisaram José e Maria que ele queria matar seu filho, então eles fugiram para o Egito. Os magos quebraram a promessa feita a Herodes e não voltaram para dar notícias sobre o menino. 

Diante de considerações como essas, surge o questionamento: onde fica a ética de um profissional ou mesmo um pastor ou conselheiro quando fica sabendo que o seu paciente, sua ovelha ou quem ele está atendendo deseja matar-se?

Surgem as dúvidas: “Devo prevenir os familiares ou não?” 

“Segredo de gabinete deve ser revelado para os familiares de primeiro grau, ou pelo menos para uma, duas ou três pessoas próximas, ou devo me silenciar e guardar a intenção do paciente ou do aconselhado sobre o perigo da morte?”

Vivenciando experiências como as mencionadas, eu, particularmente, acompanharia o caminho de Jônatas. Chamaria uma pessoa de primeiro grau e falaria claramente: “Seu filho vem falando a mim, como alguém que cuida dele, que está propenso a se matar ou matar alguém.”

Até onde vai a ética, se estou ciente que uma mulher está com desejo assassino de matar o seu esposo e, depois, se matar e destruir muitas famílias?

Até onde vai a minha ação, minha conduta ética se sei que alguém está prestes a cometer um assassinato, pular de um prédio, beber veneno, se enforcar por causa de uma decepção na vida?

Até onde vai a ética?

Tenho visto que alguns profissionais estão confundindo ética moral com ética cristã; ética profissional com a vontade de Deus, deixando de lado o fato que são instrumentos colocados na vida dessas pessoas com propensões suicidas ou assassinas para que essa vontade seja interrompida.

No Ministério Pastoral, tenho percebido que, a maioria das situações, realmente, não necessita ser compartilhada, mas, em alguns casos, entendo que devo me tornar um instrumento de Deus para prevenção, porque será muito melhor compartilhar essa questão com familiares, livrando alguém de se matar ou morrer, do que, depois, chegar na beirada de um caixão e chorar lágrimas que poderiam ser evitadas.

Vivenciei isso em minha família quando um profissional altamente gabaritado, conhecedor de uma situação terrível na vida de alguém que amo muito, por quem eu daria minha própria vida, para quem indiquei esse profissional que, em tese, seria ‘para aconselhar, para ajudar’, ficou sabendo de desejos de autodestruição.

ÉTICA E COMPROMISSO COM DEUS


Até que ponto um padre, um pastor, um psicólogo, um psiquiatra, um psicanalista, um conselheiro familiar deve ou não colocar a ética 

em primeiro lugar?


Houve também amigos, pastores, líderes em quem eu confiava, que ficaram sabendo do momento depressivo, angustiante que essa minha pessoa amada vivia, no entanto, sabedores, não me noticiaram, não me falaram, não compartilharam comigo o perigo que esse alguém, que eu amo extremamente, estava em uma grande luta contra a depressão e que poderia realmente acabar com a própria vida, o que seria uma grande perda para o Reino de Deus, causaria escândalo, traria muita dor e decepção e, milhares de pessoas teriam as vidas desfeitas, principalmente na fé.

Até onde vai a ética de um psiquiatra? Até onde vai a ética de um psicólogo, de um psicanalista, de um pastor que sabe que um acontecimento de vida ou morte está prestes a acontecer e se omite? E, depois, caso o fato acontecesse, certamente, iria acusar, chorar, condoer-se e jogar a culpa nos pais, nos familiares, isentando-se de toda e qualquer responsabilidade. 


É uma tênue linha, um fio de navalha, um fio de cabelo o que existe entre a ética, a moral e o compromisso com Cristo.


Infelizmente, tenho visto profissionais que querem apenas o dinheiro dos crentes, dos pacientes, querem aproveitar-se e receber valores altíssimos por sua consulta, mas não estão interessados em acompanhar, verdadeiramente, a dor. Profissionais que se tornam empresários são pessoas que amam a Deus parcialmente, mas que não sabem avaliar o perigo que estão correndo ao omitir uma informação que poderia salvar vidas.

Este é um alerta. Até onde deve ir a minha ética? Até onde deve ir o meu compromisso como servo de Deus?

Jônatas não pensou duas vezes, ele falou: “Davi! Davi, meu amigo! Meu pai quer matar você. Vá embora. Vá embora”.

Vamos pensar seriamente no que estou dizendo. 

Você que é profissional, principalmente, os psiquiatras, que são chamados para prescrever remédios, saiba que você pode ser, quem sabe, a última chance de reverter uma situação de tal gravidade, pois deve entender que Deus lhe deu esse sacerdócio. Você, médico, pastor, padre, conselheiro, líder, que sabe da existência iminente de uma fatalidade e que ficou sabendo dessa situação, que você possa envolver a família no tratamento. Não se cale! Não se omita! Sua atitude corajosa, cheia de amor e cuidado cristão pode salvar vidas. 

Faça como Jônatas, previna alguém que está prestes a sofrer ou cometer uma loucura.

Profissionais, conselheiros, pensem bem nessa tênue linha que separa a ética do compromisso cristão. 

Em João 8:32 está escrito: “E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”. Compartilhar a verdade, dividir a verdade é trazer libertação a quem tanto precisa. Pense nisso e aja com fé e com zelo cristão. 

Um abraço. Fiquem com Deus.

Deus te abençoe hoje e sempre.
















Jorge Linhares

Rua Cassiano Campolina, 360
Dona Clara, Belo Horizonte-MG
(31) 3448-9898
Todos os dias das 08 às 19 horas. Dependendo dos cultos funcionamos até às 22 horas
TOPO